O clássico Art of Fighting, lançado em 1992 pela SNK, marcou época como um dos títulos mais inovadores dos jogos de luta da época. Com personagens carismáticos, golpes cinematográficos e a introdução do famoso sistema de supergolpes (Super Moves), o jogo ajudou a consolidar o gênero e influenciou outras franquias, incluindo The King of Fighters.
Entre os personagens mais icônicos de Art of Fighting, King se destaca não apenas por ser uma das poucas mulheres no elenco, mas também por sua estética única e pela forma como foi concebida. Nesta entrevista clássica publicada pela revista Gamest, um dos membros da equipe de desenvolvimento da SNK fala sobre o processo de criação de King e da NPC Yuri Sakazaki, revelando detalhes interessantes (e algumas declarações datadas e questionáveis, comuns na indústria japonesa da época).
Vamos mergulhar um pouco mais na criação dessa lendária lutadora e entender como seu design impactou os jogos de luta.
A Origem de King: A Luta Para Criar uma Mulher Forte
A SNK teve dificuldades para decidir se incluiria ou não uma lutadora em um jogo de luta predominantemente masculino como Art of Fighting. A série sempre teve um tom “macho”, com lutadores robustos suando em combates físicos brutais. Ter apenas uma única personagem feminina foi uma forma de trazer contraste ao jogo, sem perder a “masculinidade” que os desenvolvedores desejavam passar.
Mas havia um objetivo claro: King não poderia ser uma personagem frágil. Ela precisava combinar força, habilidade e um certo misticismo, principalmente porque escondia sua verdadeira identidade sob um disfarce masculino.
“Nosso modelo inicial para King foi a atriz Grace Jones, do filme 007 – Na Mira dos Assassinos. Ela tinha aquelas maçãs do rosto super definidas e o cabelo bem curto,” explicou o designer da SNK.

Isso explica o visual andrógino inicial de King. No entanto, algo pareceu não agradar a equipe. “Não parecia sexy o suficiente,” afirmaram. Então, aos poucos, foram suavizando suas feições, adicionando uma aparência mais feminina ao personagem até atingir o design final.
O Equilíbrio Entre Masculino e Feminino
Mesmo com as mudanças no design, King ainda precisava manter a ambiguidade de gênero, algo crucial para sua história dentro do jogo. Afinal, como uma lutadora e guarda-costas, ela precisava ser levada a sério, o que poderia ser um desafio em um mundo dominado por homens.
A SNK trabalhou bastante para encontrar o equilíbrio entre a masculinidade e a feminilidade de King. Seu visual precisava transitar entre esses dois extremos.
“Redesenhamos seu rosto dezenas de vezes,” explicou o designer.
Essa construção cuidadosa fez com que King se tornasse uma das personagens femininas mais respeitadas e emblemáticas da SNK, inspirando outras lutadoras fortes do universo de The King of Fighters.
O “Charme” de King: A Polêmica do Sprite Rasgado
Quando questionado sobre qual seria o “charme” de King, o designer respondeu de forma inesperada:
“Definitivamente quando sua camisa rasga.”
Sim, antes do público feminino se tornar grande audiência nos jogos de luta, muitos desenvolvedores buscavam atrair jogadores masculinos com detalhes apelativos. Durante as partidas, o sprite de King podia ser danificado, fazendo com que seu terno rasgasse no meio da luta, revelando sua lingerie.
Os desenvolvedores levaram essa mecânica muito a sério. Segundo o entrevistado, essa animação foi redesenhada inúmeras vezes, com opiniões de toda a equipe da SNK sobre como ela deveria acontecer.
Originalmente, a condição para que isso ocorresse era bem específica, mas como o efeito ficou visualmente impactante, decidiram aumentar a frequência da aparição. Essa decisão gerou controvérsias na época e ainda hoje é vista como um elemento duvidoso da personagem.
Por Que King se Disfarça de Homem?
Dentro do universo de Art of Fighting, King se veste como um homem e esconde seu rosto por uma razão prática:
“Como guarda-costas, ninguém a levaria a sério se soubessem que era uma mulher.”
Isso reflete uma realidade comum no Japão (e em muitas outras culturas), onde mulheres em setores dominados por homens podem ter dificuldades para ganhar respeito e autoridade. A história de King, portanto, se destaca como uma metáfora para essas dificuldades, mostrando uma personagem feminina que precisa provar seu valor repetidamente em um mundo que não lhe dá credibilidade inicialmente.
Yuri Sakazaki e seu Passado Marcante
Além de King, outro nome feminino de destaque em Art of Fighting é Yuri Sakazaki, irmã mais nova do protagonista Ryo Sakazaki. Ela aparece na história original como uma NPC em perigo, sendo sequestrada por Mr. Big e usada para atrair seu irmão para o confronto final.
Mas seus dados de bastidores revelam mais sobre sua personalidade:
“Yuri foi muito mimada pelo irmão. Ele vivia carregando ela por aí, muito protetor. Mas, ao mesmo tempo, ela teve uma infância terrível: sua mãe morreu, seu pai desapareceu… Mesmo assim, é uma garota alegre.”
Esse aspecto de sua personalidade foi posteriormente expandido em sua aparição jogável em Art of Fighting 2, onde Yuri finalmente se torna uma lutadora e participa ativamente dos torneios. Com sua atitude irreverente e estilo de luta empolgante, ela rapidamente se tornou uma das personagens femininas mais queridas e icônicas da SNK, garantindo sua vaga permanente em The King of Fighters.
Dublagem e uma Tentativa Frustrada de “Voz Realista”
Art of Fighting foi um dos primeiros jogos a dar grande ênfase à dublagem dos personagens. A SNK decidiu usar apenas dubladores profissionais ou semi-profissionais para dar mais autenticidade às vozes.
Curiosamente, King e Yuri foram dubladas pela mesma atriz.
Para King, a SNK até mesmo tentou encontrar alguém da equipe que soubesse lutar e pudesse gravar as vozes dos golpes de forma mais realista. Um dos testes envolveu uma mulher que praticava judô dentro da empresa. Mas, segundo os desenvolvedores, sua interpretação para os gritos de dor acabava soando um pouco “sensual” demais, o que fez com que descartassem a ideia.
No caso do personagem Ryuhaku Todoh, um dos desenvolvedores tentou dublá-lo pessoalmente, mas no fim das contas, um dublador experiente assumiu o papel.
King e Yuri, Ícones da SNK
A história por trás da criação de King e Yuri reflete o pensamento da indústria de jogos nos anos 90, onde mulheres em jogos de luta precisavam lutar por espaço – nos jogos e na vida real.
Mesmo com algumas decisões duvidosas, King se tornou um ícone duradouro, aparecendo em vários títulos da SNK. Yuri, por outro lado, deixou de ser uma simples donzela em perigo para se tornar uma das lutadoras mais vibrantes e carismáticas da sua geração.
E você, tem boas memórias dessas personagens? Qual delas é sua favorita nos jogos da SNK? Compartilhe nos comentários e continue acompanhando NostalgiaGames.com.br para mais histórias incríveis dos bastidores dos clássicos.
Fonte: https://shmuplations.com/aof2/