
Conheça a origem esquecida da franquia que mudou os jogos de luta para sempre!
Antes de Street Fighter II dominar os fliperamas e moldar o gênero dos jogos de luta como conhecemos, havia um título pouco lembrado, mas essencial: o primeiro Street Fighter, lançado em 1987. Embora muitas pessoas nem saibam que ele existiu, essa joia esquecida dos arcades pavimentou o caminho para uma das franquias mais icônicas da história dos videogames.
Prepare-se para uma viagem ao final dos anos 80, quando o mundo dos jogos estava prestes a presenciar uma revolução. Vamos explorar os bastidores, curiosidades e importância do Street Fighter original, o início de tudo para Ryu, Ken e o universo que viria a conquistar milhões de fãs ao redor do globo.
A estreia que poucos jogaram: o lançamento de Street Fighter (1987)
Desenvolvido e publicado pela Capcom, o primeiro Street Fighter foi lançado em agosto de 1987, nos fliperamas japoneses, e logo depois no resto do mundo. Em uma época em que jogos como Double Dragon e Kung-Fu Master faziam sucesso, a Capcom decidiu investir em algo diferente: um jogo de luta um contra um, com foco em duelos e não em hordas de inimigos.
Era uma ideia ousada para a época, e o projeto contou com nomes que mais tarde seriam responsáveis por títulos lendários. Entre eles, Takashi Nishiyama, que futuramente desenvolveria a série Fatal Fury e King of Fighters na SNK, e Hiroshi Matsumoto, conhecido por seu trabalho em Ghosts ‘n Goblins.
Um conceito inédito para a época
Ao contrário da maioria dos jogos de ação da época, Street Fighter introduziu a ideia de dois combatentes em uma arena fechada, lutando até que um deles perdesse toda a barra de energia. O jogador controlava Ryu, e um segundo jogador podia controlar Ken (com os mesmos golpes e aparência quase idêntica), em partidas que duravam melhor de três rounds.
O diferencial estava nos golpes especiais — que podiam ser ativados com comandos específicos no controle. Pela primeira vez, jogadores podiam realizar técnicas como o famoso Hadouken, o Shoryuken e o Tatsumaki Senpukyaku, com combinações de direcional e botões de ataque.
E aqui estava o grande desafio: os comandos eram extremamente difíceis de executar. Os controles ainda não tinham a precisão que veríamos nos anos seguintes, o que tornava a execução dos golpes especiais quase uma arte de tentativa e erro.
Controles inovadores (e um pouco insanos)
Um dos aspectos mais curiosos do primeiro Street Fighter foi seu painel de controle original nos arcades. Algumas máquinas vinham com dois botões gigantes, sensíveis à força do soco ou chute do jogador. Ou seja, quanto mais forte você pressionava, mais forte era o golpe no jogo.
Apesar de ser uma ideia criativa, o sistema acabou não dando certo por diversos motivos: era impreciso, cansava fisicamente e as máquinas quebravam com facilidade. Logo depois, a Capcom substituiu por uma versão com seis botões tradicionais, três para socos e três para chutes — o mesmo esquema que ficaria consagrado em Street Fighter II.
Personagens e ambientações globais
O jogador controlava Ryu, um lutador japonês de karatê, viajando pelo mundo para enfrentar oponentes de diferentes países. Essa proposta multicultural seria expandida no futuro, mas já estava presente nesse primeiro jogo.
Entre os adversários, estavam personagens como:

- Retsu (Japão): um monge exilado.
- Geki (Japão): um ninja com garras e shurikens.
- Joe (EUA): um kickboxer loiro.
- Mike (EUA): um pugilista que mais tarde inspiraria o personagem Balrog de SFII.
- Lee (China): um mestre do kung fu.
- Gen (China): que retornaria em Street Fighter Alpha.
- Birdie (Inglaterra): personagem que seria reimaginado anos depois.
- Eagle (Inglaterra): inspirado em lutadores britânicos clássicos.
E claro, os chefes finais: Adon e Sagat, dois lutadores tailandeses que já davam uma amostra do desafio e do carisma que os futuros vilões da franquia teriam. Sagat, inclusive, se tornaria um dos personagens mais icônicos da série.
Gráficos e som: tecnologia de ponta para 1987
Embora visualmente rudimentar comparado aos títulos seguintes, o primeiro Street Fighter apresentava gráficos bem trabalhados para a época, com personagens grandes e bem animados. As vozes digitalizadas, mesmo que distorcidas, impressionavam os jogadores e adicionavam um toque de imersão inédito.
As músicas variavam de acordo com o país onde a luta acontecia, e embora simples, já demonstravam a preocupação da Capcom em dar identidade a cada cenário — algo que seria amplamente explorado em Street Fighter II.

O início tímido de uma lenda
Apesar da inovação, o primeiro Street Fighter não foi um sucesso de crítica ou público. A jogabilidade travada, os comandos difíceis e os controles experimentais dificultaram sua aceitação nas casas de arcade. Poucos jogadores se lembram de tê-lo jogado na época, e muitos sequer sabiam que o jogo existia antes do estouro de SFII em 1991.
Mas isso não significa que ele foi irrelevante. Muito pelo contrário: ele plantou as sementes de uma revolução. O sistema de golpes especiais, os confrontos 1×1, os personagens globais e o estilo de combate foram os alicerces sobre os quais o gênero inteiro foi construído.
Street Fighter: o legado invisível
O verdadeiro impacto do primeiro Street Fighter só pode ser entendido à luz do que veio depois. Sem ele, não haveria Street Fighter II, que redefiniria os jogos de luta em 1991 e daria origem a uma infinidade de clones, incluindo Mortal Kombat, King of Fighters, Virtua Fighter, entre outros.
Além disso, personagens como Sagat, Gen, Birdie, Adon e Eagle foram reaproveitados em títulos posteriores, com visuais reformulados e histórias mais aprofundadas. A Capcom nunca abandonou suas raízes — apenas as aperfeiçoou.
O título também ganhou um relançamento dentro da coletânea Street Fighter 30th Anniversary Collection, permitindo que novos jogadores tivessem acesso a essa relíquia.
Curiosidades do primeiro Street Fighter
- O primeiro jogo não permitia escolher personagens — você jogava obrigatoriamente com Ryu, a não ser no modo versus, onde o segundo jogador assumia o controle de Ken.
- O golpe Shoryuken causava danos absurdos se atingisse em cheio — uma mecânica que levou muitos jogadores ao “KO instantâneo”.
- A versão para PC Engine/TurboGrafx-CD chamada Fighting Street foi uma das poucas conversões caseiras do jogo.
- Foi o primeiro jogo da Capcom a utilizar vozes digitalizadas — algo raro e caro para a época.
O primeiro Street Fighter pode não ter sido um sucesso retumbante, mas foi um passo fundamental para que os jogos de luta se tornassem o que são hoje. Ele abriu caminho para inovações, estabeleceu mecânicas que se tornariam padrão na indústria, e apresentou ao mundo um jovem lutador de karatê que anos depois se tornaria um símbolo dos videogames: Ryu.
Se você é fã da franquia ou do universo dos jogos de luta, vale a pena experimentar ou pelo menos conhecer essa relíquia. Mesmo com seus defeitos e limitações, ele é parte essencial da história que nos levou até os campeonatos mundiais de eSports, os crossovers épicos e o legado de mais de 35 anos que Street Fighter carrega com orgulho.