O universo de Terminator 2: O Julgamento Final é um marco na cultura pop, e a busca por jogos Terminator 2 que capturem sua essência tem sido longa e, muitas vezes, curiosa. Enquanto aguardamos o promissor Terminator 2D: No Fate, revisitamos a bizarra história do primeiro jogo inspirado no filme, lançado em 1991. Esta jornada revela desafios de desenvolvimento e uma teia de inspirações que conecta o passado ao futuro.

O Legado de Terminator 2 e a Busca pelo Jogo Perfeito
Terminator 2 é amplamente considerado um dos melhores filmes já feitos, um feito notável que, no entanto, não se refletiu nos seus primeiros jogos. Ao longo dos anos, diversas tentativas de adaptação foram lançadas para computadores, consoles, portáteis e arcades, variando drasticamente em qualidade. A maioria, infelizmente, se resumiu a caça-níqueis medíocres, sem jamais alcançar a grandeza do material original. Contudo, nenhuma dessas tentativas foi tão estranha quanto a primeira: Terminator 2: Judgement Day, de 1991.
Terminator 2D: No Fate e a Teia de Inspirações
Após 34 anos desde o lançamento do filme, o cenário dos jogos Terminator 2 parece estar prestes a mudar com a chegada de Terminator 2D: No Fate, do estúdio Bitmap Bureau, previsto para 12 de dezembro. Este título promete ser a primeira adaptação verdadeiramente fiel ao espírito do clássico. Uma curiosidade interessante é a sua clara inspiração no gameplay de Super Probotector (conhecido nos EUA como Contra III: The Alien Wars) da Konami, lançado para Super Nintendo. Isso é evidente no primeiro nível da “Guerra Futura” de No Fate, onde o jogador controla um John Connor endurecido e enfrenta um chefe chamado “The Defensive Wall”, uma clara homenagem a uma cena similar em Probotector.
O Círculo Fechado da Inspiração T-800
A conexão vai além. Um outro chefe em Probotector, o “Big Fuzz” da “Factory Zone”, curiosamente parecido com o T-800, foi na verdade baseado nos “Snatchers” do jogo homônimo de Hideo Kojima, Snatcher. Os designs dos “Snatchers” de Kojima, por sua vez, foram inspirados descaradamente no icônico design do ciberesqueleto T-800 do primeiro filme O Exterminador do Futuro, de 1984. Isso cria um fascinante “loop temporal” de inspiração: o Terminator original de 1984 inspirou Snatcher em 1988, que influenciou “Big Fuzz” em Probotector em 1992, e agora, volta a Terminator 2D: No Fate com suas fases inspiradas em Contra, em 2025. É como se a própria temática de viagem no tempo da franquia se manifestasse na história de seus jogos.

O Bizarro Terminator 2: Judgement Day de 1991
Voltando ao passado, o Terminator 2: Judgement Day de 1991 foi lançado para Amiga, ZX Spectrum, Amstrad CPC, Atari ST, Commodore 64 e DOS. Visualmente, para a época, o jogo era impressionante, com sprites grandes, imagens digitalizadas do filme e cores vibrantes, mesmo na paleta limitada do ZX Spectrum. Contudo, a jogabilidade era uma história diferente, apresentando uma mistura bizarra de ideias e gêneros amontoados para cobrir as principais cenas de ação do filme.

Uma Mistura de Gêneros e Cenas Clássicas
O jogo incluía seções de luta um-a-um entre o T-800 e o T-1000 em locais como o shopping, o hospital e, claro, a siderúrgica, onde o objetivo final era “Destruir Totalmente o T1000”. Havia também duas seções de direção com visão de cima, reproduzindo a famosa perseguição de caminhão no canal de LA e a perseguição de helicóptero na rodovia. Para quebrar a ação, o jogo surpreendia com quebra-cabeças de blocos deslizantes, simulando os reparos do T-800 em seus tendões do pulso e, mais tarde, em seu olho. As versões mais potentes, para Amiga e PC, ainda adicionavam uma missão extra de tiro side-scrolling, ambientada em torno de uma longa parede do perímetro da Cyberdyne Systems, onde Arnie enfrentava unidades SWAT com um lançador de granadas ineficaz. Essa sequência extra, porém, era tão sem criatividade quanto as outras.

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Por Trás das Cenas: O Desenvolvimento Apressado
A natureza fragmentada de Terminator 2: Judgement Day de 1991 tem uma explicação: o desenvolvimento foi feito às pressas e com acesso limitado ao filme. O jogo foi lançado em agosto de 1991 no ZX Spectrum, o mesmo mês em que o filme chegava aos cinemas, com outras versões sendo lançadas logo depois. Isso significou que a equipe de desenvolvimento teve que trabalhar muito antes de o filme ser finalizado. A Ocean Software, uma editora britânica líder em adaptações de filmes na época (com títulos como Robocop e Batman: The Movie), garantiu os direitos e entregou o projeto ao pequeno estúdio britânico Dementia, localizado em Wolverhampton.

Em entrevistas às revistas Your Sinclair e CU Amiga após o lançamento, foi revelado que a Ocean deu à Dementia apenas seis meses para concluir o projeto. O único material de referência inicial foi uma cópia do roteiro, recebida em janeiro de 1991. Devido ao sigilo da produção cinematográfica, os desenvolvedores da Dementia tiveram que escolher algumas cenas do roteiro e transformá-las em fases. Somente em março, dois meses depois, o primeiro trailer do filme foi lançado, permitindo à equipe vislumbrar a visão de James Cameron. Com base nesses pequenos trechos, a Dementia ajustou o tom e os visuais do jogo, e, crucialmente, incluiu imagens digitalizadas do trailer. Pensar que os visuais de um jogo tão aguardado para um filme desse porte foram montados com pedaços de um trailer, possivelmente em VHS, é algo surpreendente para os padrões atuais, mas era assim que as coisas funcionavam na época.
O Contraste Entre Passado e Futuro
Esse acesso ultra-limitado explica por que partes do jogo de 1991 refletem tão mal o que acontece no filme e por que o produto final parece uma bagunça desconexa. Diante dessas condições, não é surpresa que Terminator 2: Judgement Day tenha ficado muito aquém das expectativas, especialmente quando comparado ao que se espera de Terminator 2D: No Fate. O Bitmap Bureau, por sua vez, teve a oportunidade de analisar o filme quadro a quadro para absorver completamente sua estética e recriar com precisão os muitos locais em pixel art.

Embora o Terminator 2: Judgement Day original seja quase injogável hoje em dia, é justo dizer que poucos desenvolvedores teriam feito muito melhor naquelas circunstâncias. A história do desenvolvimento dos jogos Terminator 2 é uma prova dos avanços da indústria e da importância do acesso ao material-fonte. Com o novo lançamento se aproximando, a pergunta permanece: a tentativa da Bitmap Bureau será a experiência definitiva de jogo de Terminator 2? Apesar de múltiplos atrasos e uma nova data de lançamento para 12 de dezembro, a expectativa é de que, no final, seja “No Problemo”.
