
Uma Viagem à Era dos Modchips: O Começo da Liberdade no PlayStation 2
Quem viveu a transição dos anos 90 para os anos 2000 sabe: PlayStation 2 foi mais que um console. Ele foi uma verdadeira revolução no universo gamer. Mas, junto com a fama, vieram as limitações — especialmente para nós, brasileiros. Preços altos, jogos raros e restrições de região abriram espaço para uma verdadeira corrida tecnológica: a era dos modchips. E, pasme, um dos mais avançados do mundo foi criado aqui no Brasil!
Prepare-se para embarcar numa jornada nostálgica pelos bastidores dos primeiros modchips do PS2, suas funcionalidades, limitações, os principais nomes que dominaram a cena e, claro, o surpreendente papel dos brasileiros nessa história.
PlayStation 2 Chega ao Brasil: Sonho de Consumo e Dificuldades

O lançamento do PlayStation 2 aconteceu no Japão no ano 2000, logo desembarcando nos Estados Unidos e Europa. Por aqui, no Brasil, o console apareceu de forma não oficial — vendido por preços estratosféricos. Estamos falando de cerca de R$ 800, o que, naquela época, equivalia a CINCO salários mínimos!
Ter um videogame novo era um luxo, especialmente considerando os jogos. Enquanto nos Estados Unidos cada título custava por volta de US$ 50, aqui no Brasil, com o dólar a R$ 2, cada jogo saía por R$ 100 (sem contar impostos e o famoso “jeitinho brasileiro” para conseguir os games).
O resultado? A grande maioria dos brasileiros acabou recorrendo às famosas cópias alternativas, conhecidas popularmente como “jogos de feira”. Isso explica o enorme número de PlayStation 2 desbloqueados no país e a quantidade ínfima de jogos originais.
O Surgimento dos Modchips: Quebrando as Barreiras do PS2
A Sony tentou proteger seu console com todo tipo de trava: bloqueio de região, códigos, formatos de disco… Mas, em pouco tempo, surgiram os famosos modchips, pequenas placas eletrônicas capazes de driblar as restrições e abrir o PS2 para o universo dos jogos alternativos e importados.
Logo em 2001, o mercado viu nascer o Neo, um dos primeiros modchips para o PS2. Apesar de revolucionário para a época, o Neo só permitia rodar jogos de PlayStation 1 gravados ou importados. Para rodar jogos de PS2, era preciso usar discos especiais como o Action Replay ou GameShark, e ainda assim, apenas para títulos lançados em CD-ROM (os jogos em DVD estavam fora de alcance, a não ser que fossem “compactados” para caber num CD, cortando vídeos e cenas, o que limitava bastante a experiência).
Na mesma linha, surgiram variantes como o Neo Key, que era conectado via USB ao console, mas ainda exigia uma solda interna para funcionar e mantinha as mesmas limitações quanto aos jogos em DVD.
Messiah: O Messias dos Modchips Chega para Mudar o Jogo

Foi então que surgiu o lendário Messiah, o primeiro modchip capaz de rodar jogos de PlayStation 2 em DVD de forma direta, sem necessidade de discos especiais ou gambiarras. O Messiah foi um divisor de águas, mas sua instalação era complexa — exigia cerca de 23 fios soldados na placa-mãe do console, o que demandava um técnico experiente. Era caro, trabalhoso, mas para muitos, valia cada centavo.
Logo depois, apareceram outros chips famosos, como o Libertador, que nada mais era do que uma cópia do Messiah, mas sem grandes inovações.
Matrix Infinity: O Modchip que Virou Lenda
Mas nenhum modchip marcou tanto quanto o Matrix Infinity. Com funcionalidades inovadoras, o Matrix Infinity não só permitia rodar jogos de todas as regiões e formatos, como trazia um menu próprio repleto de opções: mudança de padrão de cor (NTSC/PAL), desabilitar proteções de DVD, configurar boot para jogos de PlayStation 1, e até rodar homebrews diretamente do memory card, USB ou HD interno.

Quem nunca segurou os botões do controle enquanto ligava o PS2 para acessar um modo especial que atire a primeira pedra! O Matrix Infinity se tornou tão famoso que foi copiado (e pirateado) de todas as formas possíveis. Nem sempre o chip com “Matrix” gravado era original — a maioria eram clones chineses utilizando o mesmo processador (fabricado por empresas como a Actel), mas sem ligação nenhuma com os desenvolvedores do Matrix de verdade.
Evolução e Guerra de Gato e Rato com a Sony
Com tantos modchips no mercado, a Sony entrou numa verdadeira guerra de gato e rato: constantemente lançava revisões de hardware para o PlayStation 2, tentando bloquear os chips. Mas a galera dos mods não ficava para trás e sempre surgiam versões atualizadas dos modchips, compatíveis com os novos modelos de placa-mãe.
O próprio Matrix Infinity foi projetado para receber atualizações de firmware, bastando gravar um CD e executar no próprio console. Isso garantiu sua longevidade e fama. Mas atenção: versões piratas do Matrix muitas vezes apresentavam números de firmware falsos, prometendo recursos que nunca existiram — e tentar atualizar um chip clone era garantia de console “bricado” (inutilizado).
Outros Modchips Famosos: Crystal Chip, Apple, DMS4 e Mais
Além do Matrix Infinity e do Messiah, outros nomes ficaram famosos na comunidade retro. Entre eles:
- Crystal Chip: Com recursos próprios para burlar as travas de região.
- Apple: Também famoso por sua compatibilidade.
- DMS3 e DMS4: Bastante populares, sendo que o DMS4 Easy Pro trazia a proposta de instalação sem solda, usando clipes que se encaixavam nos terminais dos chips. Apesar de prático, o DMS4 Easy Pro era limitado às placas das versões 5 a 11 do PS2 e ficou com má fama por entortar pinos e, às vezes, inutilizar o console.
O Orgulho Nacional: Thunder Pro 2 Gold, o Modchip Brasileiro

Entre tantas opções importadas, um modchip nacional chamou atenção do mundo inteiro: o Thunder Pro 2 Gold. Lançado em 2007, esse modchip criado por brasileiros trouxe funcionalidades inéditas, como a capacidade de copiar homebrews diretamente para a memória interna do chip — dispensando o uso de pendrive ou memory card para rodar aplicativos como o OPL.
Além disso, o Thunder Pro 2 Gold permitia resoluções em 1080p diretamente, algo que só seria possível anos depois, com softwares avançados como o GSM. Infelizmente, esse modchip lendário se tornou raríssimo, não sendo mais encontrado para venda nem mesmo em versões clonadas.
O Fim da Era dos Modchips e o Que Restou no Mercado
Com o passar dos anos, a própria evolução dos métodos de desbloqueio (como o uso de memórias USB, exploits de software e carregamento via rede), somada à queda na demanda, fez com que a maioria dos modchips deixasse de ser fabricada. Hoje, os modelos mais comuns e fáceis de encontrar são o Modbo e o Matrix Infinity (em versões clone).
Eles cumprem bem o papel de garantir a diversão sem grandes complicações. Mas se você tem um modchip original, principalmente de nomes lendários como Messiah, Matrix Infinity ou o raro Thunder Pro 2 Gold, você está com um verdadeiro pedaço da história da retrocomputação nas mãos.
O Legado dos Modchips no Brasil
A história dos modchips do PlayStation 2 é a história de uma geração inteira de gamers brasileiros que precisou inovar para ter acesso ao que o mercado internacional oferecia de melhor. Entre importados, nacionais, originais e clones, o importante sempre foi garantir a jogatina.
E você? Já teve algum desses chips? Sabia da existência do modchip brasileiro Thunder Pro 2 Gold? Compartilhe suas histórias nos comentários, pois a nostalgia gamer só faz sentido quando é compartilhada!